Variáveis Químicas
 
 Alumínio
 O alumínio é  produzido e consumido em grandes quantidades em muitas nações, sendo o Brasil um  grande produtor, em torno de 762.000 t/ano. É o principal constituinte de um  grande número de componentes atmosféricos, particularmente de poeira derivada de  solos e partículas originadas da combustão de carvão. Em áreas urbanas, a  concentração de alumínio na poeira das ruas varia de 3,7 a 11,6 µg/kg. No ar, a  concentração varia de 0,5 ng/m³ sobre a Antártica a mais de 1000 ng/m³ em áreas  industrializadas. Na água, o alumínio é complexado e influenciado pelo pH,  temperatura e a presença de fluoretos, sulfatos, matéria orgânica e outros  ligantes. A solubilidade é baixa em pH entre 5,5 e 6,0. O alumínio deve  apresentar maiores concentrações em profundidade, onde o pH é menor e pode  ocorrer anaerobiose. Se a estratificação, e conseqüente anaerobiose, não for  muito forte, o teor de alumínio diminui no corpo de água como um todo, à medida  que se distancia a estação das chuvas. O aumento da concentração de alumínio  está associado com o período de chuvas e, portanto, com a alta  turbidez.
 
 Outro aspecto chave da química do alumínio é sua dissolução no  solo para neutralizar a entrada de ácidos com as chuvas ácidas. Nesta forma, ele  é extremamente tóxico à vegetação e pode ser escoado para os corpos  d'água.
 
 A principal via de exposição humana não ocupacional é pela  ingestão de alimentos e água. A toxicidade aguda por alumínio metálico e seus  compostos é baixa, variando o LD50 oral de algumas centenas a 1.000 mg de  alumínio 1 kg peso corpóreo por dia. A osteomalacia é observada em humanos  expostos ao alumínio. Há considerável evidência que o alumínio é neurotóxico. Em  experimentos com animais, porém há uma grande variação desse efeito, dependendo  da espécie analisada. O acúmulo de alumínio no homem tem sido associado ao  aumento de casos de demência senil do tipo Alzheimer. Brown (1989, apud Moore,  1990) correlacionou o aumento do risco relativo da ocorrência do Mal de  Alzheimer com o nível de alumínio na água de abastecimento. Não há indicação de  carcinogenicidade para o alumínio.
 
 
 Bário
 O bário pode ocorrer  naturalmente na água, na forma de carbonatos em algumas fontes minerais. Decorre  principalmente das atividades industriais e da extração da bauxita. Não possui  efeito cumulativo, sendo que a dose fatal para o homem é considerada de 550 a  600 mg. Provoca efeitos no coração, constrição dos vasos sangüíneos elevando a  pressão arterial e efeitos sobre o sistema nervoso. O padrão de potabilidade é  1,0 mg/L (Portaria 1469). Os sais de bário são utilizados industrialmente na  elaboração de cores, fogos de artifício, fabricação de vidro, inseticidas, etc.  Em geral, ocorre nas águas naturais em concentrações muito baixas, de 0,7 a 900  µg/L.
 
 
 Cádmio
 O cádmio se apresenta  nas águas naturais devido às descargas de efluentes industriais, principalmente  as galvanoplastias, produção de pigmentos, soldas, equipamentos eletrônicos,  lubrificantes e acessórios fotográficos. É também usado como inseticida. A  queima de combustíveis fósseis consiste também numa fonte de cádmio para o  ambiente.
 
 Apresenta efeito crônico, pois concentra-se nos rins, no  fígado, no pâncreas e na tireóide, e efeito agudo, sendo que uma única dose de  9,0 gramas pode levar à morte. O cádmio não apresenta nenhuma qualidade, pelo  menos conhecida até o presente, que o torne benéfico ou essencial para os seres  vivos. Estudos feitos com animais demonstram a possibilidade de causar anemia,  retardamento de crescimento e morte. O padrão de potabilidade é fixado pela  Portaria 1469 em 0,005 mg/L. O cádmio ocorre na forma inorgânica, pois seus  compostos orgânicos são instáveis; além dos malefícios já mencionados, é um  irritante gastrointestinal, causando intoxicação aguda ou crônica sob a forma de  sais solúveis. A literatura, no entanto, registra o caso de quatro pessoas que,  por longo tempo, ingeriram água com teor de 0,047 mg/L de cádmio, nada  apresentando de sintomas adversos. No Japão, um aumento de concentração de  cádmio de 0,005 mg/L a 0,18 mg/L provocado por uma mina de zinco, causando a  doença conhecida como "Doença de Itai-Itai". A ação do cádmio sobre a fisiologia  dos peixes é semelhante às do níquel, zinco e chumbo. Está presente em águas  doces em concentrações traços, geralmente inferiores a 1 µg/L. É um metal de  elevado potencial tóxico, que se acumula em organismos aquáticos, possibilitando  sua entrada na cadeia alimentar. O cádmio pode ser fator para vários processos  patológicos no homem, incluindo disfunção renal, hipertensão, arteriosclerose,  inibição no crescimento, doenças crônicas em idosos e câncer.
 
 
 Carbono Orgânico Dissolvido e Absorbância no  Ultravioleta
 Estes dois parâmetros não estão  sujeitos à legislação, mas é importante que sejam rotineiramente avaliados  durante um determinado período, para que seja possível obter-se uma correlação  entre estes com a concentração de compostos precursores de trihalometanos, o que  poderá facilitar a detecção quando de possíveis alterações na qualidade da água  com relação à presença desse tipo de compostos.
 
 
 Chumbo
 O chumbo está presente  no ar, no tabaco, nas bebidas e nos alimentos, nestes últimos, naturalmente, por  contaminação e na embalagem. Está presente na água devido às descargas de  efluentes industriais como por exemplo os efluentes das indústrias de  acumuladores (baterias), bem como devido ao uso indevido de tintas e tubulações  e acessórios a base de chumbo (materiais de construção). O chumbo e seus  compostos também são utilizados em eletrodeposição e metalurgia. Constitui  veneno cumulativo, provocando um envenenamento crônico denominado saturnismo,  que consiste em efeito sobre o sistema nervoso central com conseqüências  bastante sérias. Outros sintomas de uma exposição crônica ao chumbo, quando o  efeito ocorre no sistema nervoso central, são: tontura, irritabilidade, dor de  cabeça, perda de memória, entre outros. Quando o efeito ocorre no sistema  periférico o sintoma é a deficiência dos músculos extensores. A toxicidade do  chumbo, quando aguda, é caracterizada pela sede intensa, sabor metálico,  inflamação gastrointestinal, vômitos e diarréias.
 
 O chumbo é padrão de  potabilidade, sendo fixado o valor máximo permissível de 0,03 mg/L pela Portaria  1469 do Ministério da Saúde, mesmo valor adotado nos Estados Unidos. No entanto,  naquele país, estudos estão sendo conduzidos no sentido de reduzir o padrão para  0,01 mg/L. É também padrão de emissão de esgotos e de classificação das águas  naturais. Aos peixes, as doses fatais, no geral, variam de 0,1 a 0,4 mg/L,  embora, em condições experimentais, alguns resistam até 10 mg/L. Outros  organismos (moluscos, crustáceos, mosquitos quironomídeos e simulídeos, vermes  oligoquetos, sanguessugas e insetos tricópteros), desaparecem após a morte dos  peixes, em concentrações superiores a 0,3 mg/L. A ação sobre os peixes é  semelhante à do níquel e do zinco.
 
 
 Cloreto
 O cloreto é o ânion  Cl- que se apresenta nas águas subterrâneas através de solos e  rochas.
 
 Nas águas superficiais são fontes importantes as descargas de  esgotos sanitários, sendo que cada pessoa expele através da urina cerca 6 g de  cloreto por dia, o que faz com que os esgotos apresentem concentrações de  cloreto que ultrapassam a 15 mg/L. Diversos são os efluentes industriais que  apresentam concentrações de cloreto elevadas como os da indústria do petróleo,  algumas indústrias farmacêuticas, curtumes, etc. Nas regiões costeiras, através  da chamada intrusão da língua salina, são encontradas águas com níveis altos de  cloreto. Nas águas tratadas, a adição de cloro puro ou em solução leva a uma  elevação do nível de cloreto, resultante das reações de dissociação do cloro na  água.
 
 Para as águas de abastecimento público, a concentração de cloreto  constitui-se em padrão de potabilidade, segundo a Portaria 1469 do Ministério da  Saúde. O cloreto provoca sabor "salgado" na água, sendo o cloreto de sódio o  mais restritivo por provocar sabor em concentrações da ordem de 250 mg/L, valor  este que é tomado como padrão de potabilidade. No caso do cloreto de cálcio, o  sabor só é perceptível em concentrações de cloreto superior a 1000 mg/L. Embora  hajam populações árabes adaptadas no uso de águas contendo 2.000 mg/L de  cloreto, são conhecidos também seus efeitos laxativos.
 
 Da mesma forma que  o sulfato, sabe-se que o cloreto também interfere no tratamento anaeróbio de  efluentes industriais, constituindo-se igualmente em interessante campo de  investigação científica. O cloreto provoca corrosão em estruturas hidráulicas,  como por exemplo em emissários submarinos para a disposição oceânica de esgotos  sanitários, que por isso têm sido construídos com polietileno de alta densidade  (PEAD). Interferem na determinação da DQO e embora esta interferência seja  atenuada pela adição de sulfato de mercúrio, as análises de DQO da água do mar  não apresentam resultados confiáveis. Interfere também na determinação de  nitratos.
 
 Também eram utilizados como indicadores da contaminação por  esgotos sanitários, podendo-se associar a elevação do nível de cloreto em um rio  com o lançamento de esgotos sanitários. Hoje, porém, o teste de coliformes  fecais é mais preciso para esta função. O cloreto apresenta também influência  nas características dos ecossistemas aquáticos naturais, por provocarem  alterações na pressão osmótica em células de microrganismos.
 
 
 Cobre
 O cobre ocorre  geralmente nas águas, naturalmente, em concentrações inferiores a 20 µg/L.  Quando em concentrações elevadas, é prejudicial à saúde e confere sabor às  águas. Segundo pesquisas efetuadas, é necessária uma concentração de 20 mg/L de  cobre ou um teor total de 100 mg/L por dia na água para produzirem intoxicações  humanas com lesões no fígado. No entanto, concentrações de 5 mg/L tornam a água  absolutamente impalatável, devido ao gosto produzido. Interessante é notar,  todavia, que o trigo contém concentrações variáveis de 190 a 800 mg/kg de cobre,  a aveia 40 a 200 mg/kg, a lentilha 110 a 150 mg/kg e a ervilha de 13 a 110  mg/kg. As ostras podem conter até 2000 mg/kg de cobre. O cobre, em pequenas  quantidades é até benéfico ao organismo humano, catalisando a assimilação do  ferro e seu aproveitamento na síntese da hemoglobina do sangue humano,  facilitando a cura de anemias.
 
 Para os peixes, muito mais que para o  homem, as doses elevadas de cobre são extremamente nocivas. Assim, trutas,  carpas, bagres, peixes vermelhos de aquários ornamentais e outros, morrem em  dosagens de 0,5 mg/L. Os peixes morrem pela coagulação do muco das brânquias e  conseqüente asfixia (ação oligodinâmica). Os microrganismos perecem em  concentrações superiores a 1,0 mg/L. O Cobre aplicado em sua forma de sulfato de  cobre, CuSO45H2O, em dosagens de 0,5 mg/L é um poderoso  algicida. O Water Quality Criteria indica a concentração de 1,0 mg/L de cobre  como máxima permissível para águas reservadas para o abastecimento  público.
 
 As fontes de cobre para o meio ambiente incluem corrosão de  tubulações de latão por águas ácidas, efluentes de estações de tratamento de  esgotos, uso de compostos de cobre como algicidas aquáticos, escoamento  superficial e contaminação da água subterrânea a partir de usos agrícolas do  cobre como fungicida e pesticida no tratamento de solos e efluentes, e  precipitação atmosférica de fontes industriais. As principais fontes industriais  incluem indústrias de mineração, fundição e refinação.
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