ÁGUA QUE MATA

A mesma água que salva, se contaminada, torna-se um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Um estudo apresentado durante o Fórum Social Mundial  mostra que a má qualidade da água atualmente mata mais que conflitos armados: 34 mil mortes por dia. Só entre as crianças, são 2,5 milhões de vidas perdidas por ano, segundo relatório apresentado pelo PNUD.

Nessa guerra silenciosa, mata-se sem disparar um só tiro. A OMS afirma que,  mais de 2 bilhões de pessoas continuava sem acesso a água limpa em todo o mundo, e 5 bilhões não tinha serviços sanitários básicos. Um em cada seis terráqueos ainda é alvo fácil da desinteria, principal doença relacionada à água não tratada. O Brasil não está fora disso. Segundo o Ministério da Saúde, 65% das crianças que são internadas vão parar no hospital com infecções transmitidas por água de má qualidade. 

Além da diarréia - que, só no Brasil, mata 50.000 crianças por ano - epidemias de febre tifóide e cólera estão diretamente ligadas à contaminação da água. Para dar conta das centenas de microorganismos que podem provocar doenças no homem, uma substância é acrescentada a água há quase cem anos: o cloro. Além de extremamente eficaz, é um dos modos mais baratos de purificar a água. 

Usado em larga escala pela primeira vez nos EUA em 1908, o cloro é um dos principais motivos pelos quais hoje se vive tanto. No início do século XX, um americano vivia, em média, 45 anos — expectativa de vida comparável à da Somália atual. Hoje os americanos chegam aos 76 anos em média. É difícil imaginar quantos africanos poderiam ter sido salvos graças à água clorada. Certamente a conta envolveria centenas de milhões de vidas. 

Enquanto isso, os países latino-americanos, cometem-se verdadeiras barbaridades com a água tratada. Em 1991, o Peru interrompeu o uso de cloro no seu sistema de tratamento de esgoto, provocando uma epidemia de cólera que matou 10 mil pessoas em 19 países. No Brasil, litros e mais litros de água tratada com cloro — que poderiam estar salvando vidas — são gastas todos os anos em descargas e na lavagem de carros e calçadas.